É natural o ciúme pintar quando se comunica uma nova gravidez à criança mais velha da casa. O que não deve ser feito de jeito nenhum neste momento é ignorar o sentimento do primogênito, por considerar o fato ‘apenas uma fase’. “Os pais devem ter paciência com toda expressão de sentimento da criança, e o ciúme é uma reação emocional normal, que deve ser resolvida com muito diálogo e compreensão.
Adoecemos e fazemos adoecer quando negamos ou ‘desconhecemos’ uma emoção”, explica Vera Risi, terapeuta de casal e família, diretora de comunicação da Associação de Terapia Familiar do Rio de Janeiro.
Conheça agora os principais deslizes que os pais cometem neste momento e aprenda a driblá-los:
1. Demorar para contar sobre a gravidez
Segundo a pediatra do Hospital Santa Catarina, Márcia Sanae Kodaira, a criança tem um feeling e deixar para contar que elas vão ganhar um irmãozinho apenas quando ele está prestes a nascer é um engano. “Os bem novos não têm percepção, mas os pequenos em idade pré-escolar, a partir dos dois anos, não podem ter a inteligência subestimada”, aponta. Conte após o primeiro trimestre, quando não há risco de aborto, para que a criança não se frustre.
2. Deixar o mais velho em segundo plano
“É o principal erro cometido pelos pais”, conta o psicólogo Carlos Eduardo Fernandes. Obviamente o recém-nascido exigirá mais cuidados e atenção, porém os mais velhos precisam ter assegurados seus lugares na família e, principalmente, o amor que os pais sentem por eles. Isso é possível com diálogo constante e com a participação do filho na preparação do quarto, escolha das roupinhas, consultas médicas, dia do ultrassom… Eles se sentirão importantes.
3. Omitir explicações
Com a chegada do bebê, é importante que a criança saiba tudo o que é importante sobre o nascimento deles. “É um ótimo momento para pais explicarem para os filhos, de uma maneira apropriada para a idade deles, de onde vêm as crianças”, ressalta Carlos.
4. Propagar a chegada do novo amigo
Dizer que o bebê vai brincar com o irmão mais velho é propaganda enganosa. Os especialistas são unânimes em dizer que este argumento é falho, pois quando o bebê nasce ainda não interage e o mais velho se sente enganado.
5. Incluir responsabilidades na vida da criança
Cuidado ao dizer que o mais velho cuidará do caçula. De acordo com Carlos, é preciso incluir a criança na preparação da nova rotina da casa, porém jamais deixar subentendido que ela terá obrigações no trato do bebê. Peça para pegar uma fralda, para estar por perto na hora do banho, mas não dê a entender que a criança é obrigada a fazer essas tarefas.
6. Negar excessivamente o contato, por cuidado
“Gestações de alto risco impedem as mães de carregar peso, o que inclui o filho mais velho, porém basta pedir para alguém segurá-lo e ficar ao lado brincando”, ensina Márcia. Em gestações normais, as mães podem e devem continuar a brincar e pegar seus filhos mais velhos no colo, jamais afastá-los. Converse regularmente com o obstetra sobre a questão, mas mantenha sempre contato realmente próximo com o pequeno – abraçando, acariciando, lendo para ele etc.
7. Iniciar transformações bruscas no cotidiano
“Alguns fatores devem ser tratados com cuidado no período que antecede o nascimento do bebê, como mudança de escola, casa…”, cita a terapeuta Vera. Até mesmo mudar a criança de quarto ou fazê-la dividir o espaço que até então era exclusivo com o caçula pode exacerbar o ciúme. Se isso tiver que ser feito, faça com muito cuidado e diálogo, sempre incluindo o primogênito nas decisões, pontuando como tudo aconteceu na época do nascimento dele, deixando claro que toda atenção e cuidado que está acontecendo neste momento também aconteceu com a sua chegada.
8. Abordagens equivocadas
Quanto menor a criança, mais lúdicas as conversas devem ser sobre a chegada do novo membro da família. “Porém, conforme ela cresce, o assunto deve ser tratado de forma mais séria. Com a chegada do bebê, os filhos podem se sentir rejeitados pelos pais”, explica Carlos Eduardo. Portanto, é preciso cuidado para que eles não se sintam menosprezados ou subestimados pela forma como o assunto é tratado.
9. Superproteger o mais velho
Embora o primogênito deva participar de todas as decisões e ser inserido na reorganização da rotina, deixar o menor sob os cuidados da babá para dar mais atenção para o maior também é uma cilada. “O mais velho vai achar que isso é normal, mas de repente, o bebê começa a ficar bonitinho, dar risada, andar e a incomodar, então será tarde para reverter o quadro”, esclarece Márcia.
10. Impedir o mais velho de tocar o neném
Mesmo que um dos dois esteja doente, coloque uma máscara na criança, mas permita que eles se toquem. Fique de olho, porque é natural o mais velho (quando não tem ninguém olhando), querer bater, pegar no colo sozinho e outras atitudes que podem colocar o mais novo em risco; por outro lado, não mantenha o bebê em uma redoma de vidro, impedindo o mais velho de chegar perto.
11. Ostentar
“Mostre a decoração do quarto, mas não fique apontando tudo o que comprou para o irmão mais novo, item por item”, diz a pediatra. Se sentir excluído em relação aos bens materiais pode ser tão prejudicial quanto a falta de atenção, cuidado e carinho. Pior, pode direcionar o raciocínio infantil para todas estas faltas.
Ótimo.