Sossego é uma palavra que não existe para a mulher que tem filhos e trabalha fora de casa. Os compromissos pessoais e profissionais são muitos e nenhum pode ser deixado em segundo plano. Mas a vida dessa mulher também não precisa ser traduzida em loucura total. Como? “Revendo o modelo antigo de maternidade”, defende Maria Tereza Maldonado, psicóloga e autora de livros, entre os quais Comunicação Entre Pais e Filhos e Cá Entre Nós na Intimidade das Famílias, ambos pela Integrare Editora. Segundo a especialista, desde que a mulher ingressou no mercado de trabalho, ela se tornou também uma provedora, deixando de ser apenas uma gerenciadora da casa e dos filhos.
Essa transformação exige, para começar, que o homem também assuma o papel de gerenciador, assim como os filhos. Esse é o primeiro passo a mãe trabalhadora que deve tomar para conseguir dar conta de tudo. “A mulher que se queixa de estar sobrecarregada normalmente é a que centraliza todas as obrigações. Ela sai para trabalhar, cozinha, cuida dos filhos, leva para a escola, confere o dever de casa, enquanto as outras pessoas da casa ficam na folga. Esse modelo de organização familiar é insustentável”, acredita Maldonado.
Juliana Sampaio, autora, junto com Laura Guimarães, do blog Mothern, que já virou livro e inspirou uma série de TV a cabo, acredita que a inserção das mulheres no mercado de trabalho já é uma realidade tão consolidada que nem faz mais sentido falar em conciliação de papéis. E também defende uma divisão de tarefas dentro de casa, afinal, “o cuidado com as crianças não é e não deve ser uma obrigação só da mãe. É preciso aprender a cobrar isso das outras partes, como o pai, os outros familiares, a escola, o governo”.
A seguir, outras dicas vão ajudar você, mãe-profissional, a se organizar de tal maneira que consiga dar conta, sem estresse, de todos os seus compromissos.
Descentralize as responsabilidades
O lema é “se a casa é de todos, todos devem participar”. Isso mesmo! Já foi o tempo em que a mulher cuidava de tudo sozinha. Agora, com a mulher com força total no mercado de trabalho, o homem e os filhos devem fazer a sua parte. E nada de vir com aquele papo de que o marido dá uma ajudinha. “O homem precisa ser corresponsável”, esclarece a psicóloga Maria Tereza Maldonado. Juliana Sampaio, que está lançando o Diário Mothern da Gravidez, pela editora Matrix, concorda. “As crianças fazem parte de uma família e de uma sociedade. Por isso, o cuidado com elas não é e não deve ser uma obrigação só da mãe. É preciso aprender a cobrar isso das outras partes, como o pai, os outros familiares, a escola, o governo”, aconselha.
Faça uma revisão sobre o cotidiano da família
Agenda lotada faz parte do ritmo da vida moderna, ao qual acabamos tendo de nos adaptar. Uma boa solução para isso é cada família revisar o seu cotidiano, de forma que todas as pessoas da casa dêem conta de seus afazeres e mantenham uma boa convivência. Como podemos aproveitar o tempo que passamos juntos? Como podemos conviver da melhor forma possível com o tempo de que dispomos? E essas respostas não podem ser determinadas apenas pela mulher. “É importante que todas as pessoas da família possam ter boas ideias para atingir tais objetivos”, sugere Maldonado. Converse com marido e filhos e façam combinações interessantes para todos, sempre visando tirar o máximo proveito dos momentos em que estão juntos. Família reunida toda noite para o jantar? Televisão somente na sala? Computador na área comum da casa? As decisões devem combinar com o estilo de cada família, mas é interessante pensar sobre elas.
Use mais a Internet
Se a Internet facilita tantas tarefas, por que não pode facilitar a vida da mãe trabalhadora? Pois pode, e deve! Pais e filhos podem se comunicar por e-mail e por programas de mensagens instantâneas ao longo do dia, a fim de manterem um diálogo constante e elevarem a qualidade da relação. “A mulher que dispõe de Internet no ambiente de trabalho pode aproveitar a ferramenta para monitorar o filho, instruí-lo, tirar dúvidas da lição de casa. É uma forma de estar presente”, acredita Maria Tereza Maldonado.
Tenha um bom acordo com a empresa
Não adianta negar. A mulher que tem filho, mesmo dividindo responsabilidades com o marido, vez ou outra terá de se ausentar do trabalho por algumas horinhas para ir às reuniões de pais, a alguma apresentação do filho, ou ainda no caso de alguma doença ou outro problema. Faz parte da vida de qualquer pessoa e muitas empresas estão conscientes disso. O importante é você se certificar de que este é o perfil de sua empresa. Há flexibilidade de horários? É possível compensar o horário ao longo da semana caso você precise chegar um dia mais tarde? “Felizmente, muitas empresas estão mais preocupadas com a boa qualidade de vida familiar de seus colaboradores”, comenta Maldonado.
Faça do prazer pelo estudo uma realidade da casa
Isso vai ajudá-la a ter de cobrar menos dos seus filhos que ele estude, faça as tarefas, ou seja, você vai poder ficar menos na cola dele e vai usar esse tempo para outras coisas. “Se a criança crescer em um ambiente onde o prazer pela leitura, pelo perguntar e pesquisar é constante, provavelmente não vai precisar de um adulto no pé para fazer as tarefas da escola”, comenta Juliana Sampaio. Procure mostrar como descobrir coisas novas sobre o mundo que nos cerca é acima de tudo prazeroso e enriquecedor. Isso se faz no dia a dia, nas situações mais corriqueiras, e também por meio de exemplos.
Cuide-se!
“Muitas vezes a gente se esforça tanto para ser uma boa mãe, que acaba esquecendo que bom mesmo é ter uma mãe feliz e saudável”, observa Juliana Sampaio, uma das autoras do blog Mothern. E ela está certíssima. Para conseguir desempenhar todas as suas funções, de mãe, profissional, mulher, você precisar ter saúde e estar em paz consigo mesma. Por isso, cuide-se! Alimente-se bem, faça exercícios, cuide de sua aparência. O seu estado de espírito e a maneira como se sente poderá se refletir nas suas muitas outras atividades.
Dê autonomia aos filhos
Uma coisa não vai mudar nunca: crianças precisam de proteção, carinho, atenção e muitos cuidados. Mas isso não quer dizer que elas sejam totalmente dependentes dos pais (tampouco da mãe). “As crianças são mais capazes do que a gente imagina. Basta abrir uma conversa clara com elas para se perceber o potencial que têm para ser aproveitado”, defende Maria Tereza Maldonado. Segundo a psicóloga e escritora, as crianças estão mais atentas e mais inseridas no mundo do que em outras gerações, quando não tinham contato com conversas de adultos, com noticiários e com tudo que a Internet e a televisão oferecem. Assim, procure escutar mais o que seu filho tem a dizer, dê a ele liberdade para resolver suas coisas, valorize as suas ideias, e veja como isso vai refletir positivamente também no seu dia a dia.
Mantenha a calma
“Não se culpe tanto, não se estresse tanto, não enlouqueça”. Esta é uma das dicas de Juliana Sampaio para a mãe que trabalha fora. E que dica! Cobrar-se demais não leva a lugar nenhum, só a um nível de estresse que é prejudicial para a sua saúde e para as suas relações, sejam elas familiares ou profissionais. Procure resolver uma coisa por vez, e não ache que você tem de ser melhor em tudo.
Aproveite os finais de semana
Nada de levar trabalho para casa sempre. Procure não desperdiçar as poucas horas de folga que você passa ao lado de seu filho. Nesses momentos, conversem, troquem afeto, leiam, passeiem, interajam, assistam a um bom filme, enfim, garanta a atenção que ele merece receber e que você gostaria de poder dar durante outros dias da semana, mas que nem sempre é possível.
Tenha sempre pessoas de sua confiança por perto
Não se trata de delegar para terceiros a Educação do seu filho, mas sim de saber que pessoas responsáveis e preparadas estão cuidando dele enquanto você e seu marido trabalham. Tenha certeza de que o colégio em que ele estuda tem bons profissionais e pessoal suficiente para cuidar de todas as crianças. Antes de matriculá-lo, visite a escola quantas vezes for necessário, até se sentir segura. Relacionar-se bem com vizinhos também pode ajudá-la num momento de apuro, como ficar presa até mais tarde no trabalho e ter de pedir para alguém buscar o seu filho na escola. Procure conhecer também os pais dos coleguinhas de seu filho. Certamente, vocês vivem situações parecidas e podem montar esquemas em que um ajuda o outro.