Problema que atinge quase 30% dos homens em todo o mundo, a ejaculação precoce é cercada por muitas dúvidas e alguns mitos. Na tentativa de esclarecer boa parte deles, sugiro a leitura de 25 perguntas sobre ejaculação precoce publicadas a cinco anos atrás pela Folha Online.
1 – O que é ejaculação precoce?
É quando o homem chega ao ápice da relação –antes, durante ou logo após a penetração– com o mínimo de estímulo sexual e sem ter desejado. Esse descontrole deve ser persistente, repetitivo e causar sofrimento acentuado ou dificuldade interpessoal. A disfunção sexual é descrita dessa forma no DSM 4, o manual de diagnósticos da Associação Psiquiátrica Americana.
2 – É possível estabelecer um tempo mínimo para atingir o orgasmo?
A sigla IELT (intravaginal ejaculation latency time) –que significa o tempo de permanência do pênis dentro na vagina, desde a entrada até a liberação do sêmen– aparece em muitas pesquisas sobre o tema. Um estudo publicado em julho deste ano no “Journal of Sexual Medicine” chegou a um IELT médio de 5,4 minutos, depois de avaliar durante um mês a vida sexual de 500 casais de cinco países. Outros pesquisadores afirmam que ejacular antes de um minuto após a penetração é o que caracteriza uma ejaculação precoce. Mas em 1,5 minuto a disfunção seria somente “provável”.
Após diversos estudos feitos nos anos 60 em um laboratório em San Francisco, no auge da revolução sexual, a dupla de pesquisadores norte-americanos Willian Masters e Virgínia Johnson, pioneiros da terapia sexual, chegou à conclusão que o ejaculador rápido é o homem que não consegue se controlar por um tempo suficiente para satisfazer sua companheira em pelo menos 50% dos atos sexuais. Se a parceira persistentemente não chega ao orgasmo por outras razões, que não a rapidez do processo, o conceito deixa de ser válido. Alguns anos depois, esse percentual foi elevado para 80%. “A contribuição de Masters e Johnson, em relação às teses do cronômetro, é justamente valorizar o potencial e o prazer da mulher. Porém, o tempo que a mulher leva para atingir orgasmo é muito variável. Até por razões de repressão cultural, a resposta sexual feminina foi sempre mais demorada: por volta de 10 a 15 minutos, segundo inúmeras pesquisas”, afirma o urologista Moacir Costa no livro “Quando o Sexo É Mais Rápido que o Prazer” (ed. Prestígio, 152 págs., R$ 24,90), lançado nesta semana durante o 30º Congresso Brasileiro de Urologia, em Brasília.
3 – Existe diferença entre ejaculação rápida e precoce?
Não. São duas definições para o mesmo problema. Em 2002, um consenso internacional de disfunções sexuais realizado pela Issir (Sociedade Internacional para o Estudo da Sexualidade e da Impotência), em Paris, mudou a definição de “precoce” para “rápida”. A psiquiatra Carmita Abdo, que participou do consenso, afirma que a mudança serviu para deixar a classificação mais objetiva na língua inglesa. “Em português, o termo precoce continua sendo mais apropriado”, diz a psiquiatra.
4 – A mulher pode colaborar com o tratamento?
Claro. A intimidade só ajuda nessas horas. Uma mulher compreensiva e disposta a ajudar é fundamental no sucesso do tratamento. Se o ato sexual for encarado mais como uma troca de afeto e menos como uma corrida pelo orgasmo, as chances de melhorar o prazer aumentam. Mulheres competitivas e dominadoras, no entanto, tendem a agravar a situação.
5 – Existe cura para essa disfunção sexual?
Sim. Atualmente, o problema é tratado com psicoterapia, com farmacoterapia ou com uma combinação das duas. Há dois tipos de ejaculador precoce: o primário, que apresenta a disfunção desde o início da vida sexual, e o secundário, aquele que adquiriu o problema depois de ter tido relações satisfatórias por alguns anos. O tratamento medicamentoso nos casos secundários geralmente é mais eficiente que nos primários. Mas os especialistas afirmam que a combinação entre as duas terapias costuma ter mais sucesso.
6 – É possível tratar a ejaculação precoce com antidepressivos?
Antidepressivos em baixas doses são muito utilizados para tratar esse tipo de disfunção. Segundo o urologista Abraham Morgentaler, a idéia original dessa indicação surgiu depois de analisar um efeito adverso bem conhecido dos antidepressivos: retardar o orgasmo. “Alguém inteligente teve a boa idéia de usar isso para quem tinha orgasmo rápido demais”, afirma Morgentaler. Atualmente, são utilizados principalmente os antidepressivos do tipo ISRS (inibidores seletivos de recaptação de serotonina), que apresentam menos efeitos adversos. Segundo a psiquiatra Carmita Abdo, os antidepressivos baixam a ansiedade, condensam as secreções e diminuem excitabilidade. É recomendado o uso combinado com a psicoterapia. O medicamento também contribui para que o paciente crie um vínculo maior com a terapia.
7 – Tomar remédios contra disfunção erétil, como Viagra, tem algum efeito?
Alguns médicos recorrem a esse tipo de medicação como parte do tratamento, principalmente nos chamados pacientes secundários –que passaram a gozar rápido depois de terem experimentado uma vida sexual estável. O mecanismo de ação dessa categoria de medicação (inibidores da enzimafosfodiesterase 5, PDE5) ajuda a relaxar as células musculares lisas e aumentar o fluxo sangüíneo para o pênis. E esse tipo de remédio diminui bastante o intervalo entre uma ereção e segunda –o chamado período refratário. Isso ajudaria a inverter o efeito “bola de neve”: uma relação insatisfatória baixa a auto-estima e a confiança do homem, aumentando a ansiedade e a chance de fracasso na próxima relação. “O remédio pode reverter esse ciclo vicioso. pois age diretamente na auto-estima do homem”, afirma o urologista Joaquim Claro, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
8 – Qual a origem do problema?
As causas fisiológicas são extremamente raras e controversas, principalmente quando se fala em hipersensibilidade da glande ou alto reflexo ejaculatório. Portanto os fatores emocionais e de condicionamento é que são realmente considerados pelos especialistas. “É como aprender a chutar com a esquerda e a direita”, afirma a ginecologista e terapeuta sexual Jaqueline Brendler, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Ela afirma que, durante o “aprendizado sexual”, o homem pode acabar se condicionado a gozar rápido. A iniciação sexual também é alvo de discussão. Muitos homens têm suas primeiras transas com prostitutas (que muitas vezes aceleram o ritmo da relação para acabar logo) ou em situações periclitantes (dentro de um carro, na casa dos pais da namorada). “Antigamente, gozar rápido era sinal de virilidade. De meio século para cá, a partir do momento em que a mulher passou a ter seu papel na relação, esse conceito começou a mudar. Os homens passaram a ter de acompanhar o ritmo da parceira e se tornaram mais frágeis, vulneráveis”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo.
“Existem teorias ainda hipotéticas que apontam para predisposição genética e um distúrbio no receptor 5-HTT [responsável pela reabsorção da molécula de serotonina pelos neurônios]”, afirma a psiquiatra. Muitos especialistas acreditam que, além de demonstrar pressa nas preliminares e antecipar a penetração, os “rapidinhos” também apresentam um grau de ansiedade elevado em outros setores da vida. E essa ansiedade é retroalimentada pela ejaculação precoce.
9 – Pensar na conta do banco ou no enterro do cachorro ajuda a retardar a ejaculação?
Não. Para poder desenvolver o autocontrole, o homem tem de se concentrar no sexo e no que está acontecendo com o seu corpo. Identificar os estágios do próprio tesão é o primeiro passo para poder controlar a ejaculação. “Tenho pacientes que falam para a mulher se mexer o mínimo possível e pensam em outra coisa. Mas isso cria uma ansiedade ainda maior para a relação”, afirma o urologista Celso Marzano, diretor do Isexp (Instituo Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática). Segundo ele, o tratamento da terapia sexual exercita o autorelaxamento para que seja possível conhecer a própria resposta sexual.
10 – Uma ducha fria antes funciona?
Pode servir como forma de relaxamento, mas não tem efeito direto sobre o problema.
11 – Vale tomar um drinque para relaxar?
A questão é delicada. Como o álcool é depressor do sistema nervoso central, é preciso mais estímulos para chegar ao orgasmo, mas uma dose a mais pode comprometer a ereção e arruinar a noite. Além disso, muitos ejaculadores precoces acabam dependentes do álcool para ter relações sexuais.
12 – Qual o efeito de drogas como maconha ou cocaína?
Como o álcool, elas agem no sistema nervoso central, diminuindo a percepção erótica, e podem retardar a ejaculação nas primeiras vezes. Um erro na dosagem também pode causar a perda da ereção. Além disso, o uso abusivo dessas drogas, principalmente da cocaína, pode levar a uma disfunção erétil, além de causar outros problemas emocionais, físicos e sociais.
13 – A aplicação de gel anestésico no pênis tem efeito?
Não. Nenhum estudo científico com esses produtos mostrou resultado. Além disso, o gel pode inibir o prazer da mulher pela anestesia do clitóris.
14 – Anéis penianos vendidos em sex shops podem ser usados para retardar a ejaculação?
Esse tipo de recurso é altamente desaconselhado pelos especialistas. “Tem muita gente que se machuca com isso. É um perigo. Pode causar edema por vasoconstrição, levar a estreitamento da uretra e causar gangrena do pênis. Deveria ser proibido”, afirma o urologista Joaquim Claro, da Unifesp.
15 – Existe algum treino físico para melhorar o controle sobre a ejaculação?
A técnica mais famosa é a chamada “start-stop” (começa-pára). O homem deve se masturbar e interromper os movimentos quando perceber que está prestes a gozar. Deve ficar parado até que sensação premonitória da ejaculação desapareça e depois reiniciar os movimentos. Dessa forma, o homem passa a reconhecer os sinais que antecedem o gozo. Também pode ser feito com a ajuda da parceira. Muitos ejaculadores precoces, no entanto, têm um bom controle no momento da masturbação, mas, na hora da penetração, perdem a cabeça.
Algumas posições da ioga também são úteis. Exercícios de respiração ajudam no relaxamento e no controle emocional, diminuindo os batimentos cardíacos. Há uma exercício próprio para treinar esse tipo de controle chamado “mulabanda”, que consiste na contração e relaxamento dos esfíncters. É preciso fazer uma pressão como se a pessoa precisasse muito ir ao banheiro. Isso fortalece os músculos que fecham o ânus e a uretra, importantes no controle da ejaculação.
16 – Segurar a vontade de urinar e controlar o jato de urina pode ajudar?
Saber controlar o jato de urina ajuda a fortalecer a musculatura envolvida no ato sexual, mas não resolve o problema e transar com a bexiga cheia gera apenas desconforto. “Na índia, há uma infinidade de técnicas. Uma delas é entrecortar o jato de urina várias vezes”, afirma o professor de ioga e biólogo Anderson Allegro.
17 – Jovens ejaculam mais rápido?
Por conta da falta de experiência, é normal que pessoas mais novas tenham menos controle desenvolvido, um nível maior de ansiedade em relação ao ato e a confiança reduzida quanto ao desempenho sexual. Quando o comportamento se prolonga por dois ou três anos com prática regular (de duas ou três vezes por mês) sem haver melhora na performance, é aconselhável uma avaliação terapêutica.
18 – Existe diferença entre orgasmo e ejaculação para o homem?
Fisiologicamente os dois devem coincidir, mas existem casos em que a ejaculação precede orgasmo e vice-versa. Não são sinônimos: orgasmo é o prazer máximo do ato sexual e ejaculação é a saída de sêmen pela uretra peniana.
19 – Existe alguma posição sexual que favoreça ou não o controle da ejaculação?
Não há uma regra, mas facilita se a relação começar pela posição que seja menos excitante para o homem. Muitos especialistas defendem que a posição “papai mamãe” (o homem sobre a mulher) é a pior para os “rapidinhos” por dois motivos: possibilita contato maior dos corpos e é a posição mais comum, a que o homem já está mais habituado. A necessidade de mudar o “script” também é fundamental no trabalho de descondicionamento sexual. A mulher por cima, deixando os movimentos somente com o parceiro, é uma das primeiras indicadas nas terapias sexuais.
20 – É possível fazer uma cirurgia para diminuir a sensibilidade do pênis?
Essa prática é totalmente condenada pela Sociedade Brasileira de Urologia. Não existe nenhuma comprovação científica dos resultados desse tipo de cirurgia. Chamada de neurotomia, consiste na secção e/ ou cauterização dos nervos penianos. O objetivo é reduzir a sensibilidade da glande como forma de controle da ejaculação, mas pode levar a um quadro parcial ou definitivo de falhas de ereção, dependendo da extensão da lesão nervosa.
21 – Injeções no pênis para melhorar a ereção são recomendadas?
Não. Algumas clínicas vendem a idéia falsa de que injeções de substâncias como a protaglandina e papaverina, aplicadas diretamente no pênis, podem resolver o problema da ejaculação rápida. “Não confie em nenhuma dessas soluções rápidas e milagrosas”, afirma o urologista Moacir Costa.
22 – A ejaculação representa o fim da relação sexual?
“Para os inteligentes, não”, afirma a ginecologista Jaqueline Brendler. “Mesmo depois da ejaculação, se o movimento sexual continuar, a mulher pode chegar ao orgasmo em questões de segundos.”
23 – O uso de preservativos ajuda ou atrapalha?
É relativo. Alguns ejaculadores precoces acreditam que a camisinha diminui a sensibilidade e, dessa forma, dá mais chances de segurar os impulsos –há quem use dois preservativos. Outros acham que a parada para a colocação do preservativo é o que atrapalha. Na pesquisa com 500 casais citada na primeira pergunta, o uso ou não de preservativos não teve influência nos resultados do tempo de permanência intravaginal sem ejacular.
24 – Existe relação entre diabetes e ejaculação precoce?
Não. Após muitos anos de doença sem tratamento adequado, diabéticos podem apresentar comprometimento da enervação peniana, que interfere no mecanismo de ereção.
25 – Se masturbar antes de sair com a garota resolve?
Essa técnica é muito difundida entre os “rapidinhos”, principalmente entre os mais jovens –já virou até cena de filme de Hollywood, na comédia “Quem vai ficar com Mary?”, dos irmãos Farrelly. A idéia de acalmar os ânimos antes do encontro pode ter algum sucesso momentaneamente, mas pode levar para um agravamento do quadro. Deve ser encarada somente como paliativo.