Uma nova modalidade de trote, que deixa de lado a violência e a humilhação para dar lugar à integração e à responsabilidade social. Essa foi a proposta dos veteranos do curso de Estatística da Universidade Federal do Espírito Santo. Na manhã desta terça-feira, veteranos e calouros lotaram a recepção do Hemocentro do Espírito Santo (Hemoes) para um gesto de solidariedade: a doação de sangue.
O organizador do “Trote Solidário”, Lucas Michel, conta que a idéia surgiu a partir da proibição do trote tradicional pela universidade. “Já não fazia sentido mesmo insistir na prática do trote. Essa coisa de humilhar e constranger não tem mais lugar na universidade. Então, conversei com os outros veteranos e a idéia da doação de sangue foi ganhando força. Conversamos com os calouros e eles toparam”, conta Michel.
A medida foi muito bem recebida pelos estudantes novatos. A adesão foi quase total. As exceções ficaram por conta daqueles que foram impedidos de doar por conta dos pré-requisitos do banco de sangue. Robson Luiz Faria Filho, calouro do curso de Estatística, teve que deixar a doação para depois. Mesmo assim, compareceu ao evento e, para não perder a viagem, se cadastrou como doador de medula.
Mas quem não tinha nenhum impedimento, fez a doação sem reclamar. A caloura Lorena De Paula Alves considerou a iniciativa “super importante”. “Assim nós podemos ajudar outras pessoas, podemos salvar vida. Não tem constrangimento, humilhação. A gente só ganha em vir aqui e ajudar a salvar vidas”, comentou Lorena.
Outro estudante destacou que o Trote Solidário, além de ser uma medida para aumentar os estoques do Hemoes rapidamente, pode contribuir na conscientização da população. “Isso pode ajudar a divulgar a importância da doação voluntária. Seria melhor ainda se todos os cursos fizessem isso”, sugere Vitor Zucolotto, calouro de Estatística.
O novo estilo de trote também conseguiu a façanha de reunir calouros e veteranos na fila dos “bichos”. Aluna do última período do curso de Estatística, Damares Christ também contribuiu e, pela primeira vez, doou sangue. “Quando entrei na universidade meu trote foi cruel”, conta ela. “Não houve violência e foi até divertido, mas saímos imundos pelas ruas pedindo dinheiro para a festa. Acho que essa iniciativa foi bem recebida porque promove a integração do pessoal, que é o objetivo do trote, mas sem humilhação”, afirma Damares.
Toda a movimentação foi acompanhada de perto pela secretária do colegiado de Estatística, Tânia Baldotto. “Esses meninos estão me dando um presente. Sempre sonhei com o fim dos trotes violentos e essa turma está tornando isso realidade. Eles são um exemplo e vão mostrar à sociedade que, apesar de jovens, esses estudantes estão muito conscientes de suas responsabilidades. São exemplos de cidadania”, afirma Tânia.