Assistir a vídeos, participar de fóruns e esclarecer dúvidas por chat e e-mail é uma prática cada vez mais comum para os universitários brasileiros. A modalidade de educação a distância (EAD) cresceu nos últimos anos – já responde por 14,6% das matrículas na graduação -, mas os estudantes precisam ficar atentos para não perder conteúdo em relação às aulas tradicionais.
Quem opta por uma graduação ou qualquer outro curso a distância deve cumprir a mesma carga horária daqueles que frequentam as salas de aula de uma universidade. Segundo a coordenadora do núcleo de EAD da Universidade Metodista de São Paulo, Adriana de Azevedo, a diferença está no fato de o aluno poder estudar o conteúdo quando achar melhor. “Ele tem a opção de estudar diariamente, determinando horários para isso ou, então, fazer leituras e realizar suas tarefas nos finais de semana, por exemplo, caso sua rotina de trabalho seja muito intensa”, diz. Ainda assim, muitos alunos encontram dificuldades para assimilar o conteúdo dessa maneira.
No caso da Metodista, o acadêmico deve participar de encontros presenciais semanais, realizados nos polos EAD, localizados em diversas cidades do Brasil. Lá, ele assiste a aulas transmitidas da sede da instituição via satélite, ao vivo, e participa de trabalhos em grupo. Ainda que essa não seja uma determinação do MEC, Adriana explica que os encontros semanais são uma maneira de adaptar os alunos à nova realidade de ensino. “Achamos interessante criar um vínculo entre os estudantes, fortalecer a ideia de grupo, reforçar uma identidade”, destaca.
Ainda que variem de acordo com a instituição, os cursos a distância apresentam muitas características em comum: todos eles têm como base uma plataforma virtual, que disponibiliza conteúdo e permite que alunos e professores interajam por meio de fóruns e chats. É nessa plataforma que o estudante também tem acesso a apostilas e materiais em vídeo e áudio sobre o assunto. Além disso, seguindo exigências do MEC, todas as instituições devem aplicar provas presenciais de avaliação.
A coordenadora do Metodista garante que a modalidade atrai muitas pessoas já formadas em um curso de graduação presencial. É o caso de Sandra Brandt, graduada em Letras pela Unisinos, do Rio Grande do Sul. Mais de 20 anos depois da formatura, ela decidiu voltar a estudar. Cursou pós-graduação em Supervisão Escolar em EAD da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
“Aproveitei o curso tanto quanto teria aproveitado presencialmente, com a vantagem de que, sem precisar me deslocar, economizei tempo e dinheiro. Fui muito disciplinada. Lia todo o material, esclarecia as dúvidas com os professores. Se o aluno se compromete, o ensino a distância não perde para o presencial em nada”, diz.
Para especialista, falta preparo aos professores
As transferências de uma cidade para outra acabavam obrigando Roberto Teloecken a mudar de universidade sempre que o trabalho exigia. Por conta disso, algumas disciplinas cursadas eram invalidadas por outras instituições, e o estudante de Administração não conseguia se formar. A solução foi matricular-se em um curso a distância da Universidade Norte do Paraná (Unopar). Contudo Teloecken acredita que a modalidade apresenta carências.
“A faculdade a distância não promove diálogo nem troca de ideias como acontece na presencial”, diz. Roberto tinha uma aula presencial por semana, em um dos polos da universidade, quando assistia a uma transmissão feita pelo professor. “Nós podíamos mandar perguntas, mas, além de mim, milhares de outros alunos assistiam àquela aula. Na maioria das vezes, as dúvidas deles não correspondiam às minhas”.
Para conseguir aproveitar o conteúdo disponível ao máximo, Teloecken garante que seguiu as indicações dos professores com muita disciplina. “A EAD exige muita pesquisa, caso o aluno queira fazer um bom trabalho. Para ter uma atenção especial do professor, dá para usar o e-mail, além do fórum e do chat, que, mesmo com maior distância, possibilitam o contato com os colegas”, diz.
As ressalvas de Roberto em relação ao ensino a distância ilustram parte da crítica feita por especialistas. Organizador do recentemente lançado Educação a distância: cenário, formação e questões didático-metodológicas (Editora Wak, 2010), o sociólogo Marco Silva é cético quanto à qualidade do cenário atual da EAD no Brasil. Doutor em Comunicação, ele cita o descomprometimento dos alunos e a falta de preparo dos professores como alguns dos maiores problemas da modalidade.
Para ele, existe “uma espécie de mal estar em relação à EAD”. “O aluno lança mão desse recurso muitas vezes porque a universidade não abre outras possibilidades presenciais ou, então, porque mora muito longe da universidade e não tem tempo nem dinheiro para se deslocar. O problema é que, nesse caso, o próprio sujeito não está abraçando a causa com a coragem necessária. Ele próprio não está engajado. Não acredita, só faz porque não tem alternativa”, opina.
Silva é enfático na questão da má formação de professores. Na sua visão, os profissionais não são capacitados para atuar nesse formato. “Muitas vezes o professor vai para a modalidade online em busca de um plus no contracheque. Ele tem experiência no presencial, mas fica sabendo que a universidade vai abrir oferta em EAD e se candidata”, observa. “Nem sempre a universidade procura saber se esse profissional está capacitado, se ele sabe fazer um fórum ou um chat, por exemplo”.
Além de formar professores capacitados a interagir com os alunos, segundo Silva, é necessário desenvolver um desenho didático adequado à EAD. “É preciso rever a maneira como o conteúdo vai chegar ao aluno. Este conteúdo deve ser capaz de atrair e de instigar, e a docência deve ser capaz de aproximar”, diz.
[ + ] Fonte: Terra