A matéria abaixo é de grande valia para os pais que tem filhos pequenos e que já se interessam por computador. Sugiro a leitura porque passo por esta situação em casa, afinal, tenho um pequeno que ainda irá completar 4 anos.
Nos últimos dias tenho ensinado a ele como manusear o mouse e teclado. Para minha surpresa, ele tem aprendido tudo com muita facilidade.
Geração WWW
Ainda embrulhadas em fraldas, sem saber ler nem escrever, muitas crianças hoje dominam o mouse com a mesma destreza com que brincam de chocalho. O contato com a tecnologia começa cada vez mais cedo – para constrangimento geral dos pais, muitas vezes obrigados a tomar lições com seus filhos para não fazer feio no escritório. Nas escolas particulares, onde os PCs são mais comuns do que no ensino público brasileiro, as aulas de computação atendem a uma galera no mínimo precoce. Algumas delas vêm do maternal, com três ou quatro anos de idade. Cedo demais para mexer no computador? Depende. Há especialistas que garantem: quanto mais cedo uma criança dominar a tecnologia que lhe vai servir no futuro, melhor. Outros são mais reticentes e acham fundamental esperar até que a garotada viva outras experiências antes de dedicar-se à informática. Na lista de atividades essenciais para uma infância sadia estão as brincadeiras de roda, o contato com amigos e, claro, as raladas no joelho.
Mexer no computador não é uma atividade danosa em si. Longe disso. Bem utilizado, ele pode ser um tremendo aliado no ensino, ajudando nas lições de casa e tornando mais suportáveis as tardes chuvosas dentro de casa. Há programas específicos para que a criançada desenvolva a coordenação motora fina, a percepção de cores, as formas e ainda estimule o raciocínio lógico. Assim como a televisão, porém, o computador exige limites rigorosos. Não deve ser usado por longos períodos, sob o risco de amplificar a ansiedade infantil. É preciso haver um equilíbrio entre as atividades do dia-a-dia e os momentos de brincadeira online.
Mas, afinal, usar computador na educação pode tornar uma criança mais inteligente? Para o educador Seymour Papert, autor de dois livros sobre a influência da informática no desenvolvimento infantil, “tudo depende do uso que se faz do computador”.
Criatividade – Uma das mais ricas fontes de informação do mundo, a Internet pode ajudar em qualquer lição de casa. Além de auxiliar na solução de problemas específicos, o computador também é útil para desenvolver a habilidade de leitura, comunicação, pesquisa e vocabulário. Com todo esse ferramental à disposição, as crianças podem até tornar-se mais criativas. Essa pelo menos é a opinião das 615 famílias americanas pesquisadas pela empresa Digital Research. Mais de dois terços dos pais ouvidos (61%) acreditam que seus filhos se tornaram mais criativos com o uso da tecnologia. “Quando estão online, as crianças lêem, analisam, avaliam, comparam seus pensamentos, contam histórias, colaboram e inovam. A Internet tornou-se um repositário de todo o conhecimento registrado”, arrisca o autor americano Don Tapscott, que escreveu o livro Crescendo digitalmente: o surgimento da geração da rede. Ainda assim, quando o assunto é inteligência, não há conclusões categóricas para indicar que crianças adeptas do computador sejam mais ou menos capazes que as demais. “A conclusão dos vários estudos é que, se usada corretamente nas escolas, com crianças acima de seis anos e em várias disciplinas, a informática pode melhorar a capacidade de aprendizado, de análise, de motivação, além de desenvolver a habilidade de comunicação”, diz Tapscott.
O grande problema é saber quando e como usar corretamente o computador. Uma das instituições que resolveu especializar-se na investigação de novas tecnologias de comunicação aplicadas à educação foi a Escola do Futuro, núcleo de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). Lá buscam-se propostas pedagógicas inovadoras utilizando recursos como a Internet e a multimídia para maximizar as possibilidades do ensino e da aprendizagem. Entre os pesquisadores destaca-se Renata Ramos, responsável pela área de hipermídia educacional. Sua posição quanto ao uso do PC na educação é categórica: “O computador é um ótimo motivador para as crianças. Seu objetivo é a informação. Até os quatro anos, elas estão na fase do descobrimento e o uso de qualquer tecnologia deve ser lúdico”, ensina. Os projetos da Escola do Futuro são sempre realizados diretamente com os professores e atingem mais de 500 escolas em todo o País, com predominância de estabelecimentos da rede pública.
Evitar pressões – Muitas vezes os pais confundem o uso correto de computadores na vida de seus filhos e acabam pecando pelo excesso. A necessidade de preparar os filhos para o mercado de trabalho às vezes atropela o processo natural de amadurecimento da criança e muitas vezes os pais introduzem a informática antes da hora. “Uma vez o pai de um aluno veio reclamar que seu filho não conseguia fazer o banco de dados de sua empresa. Perguntei quantos anos o menino tinha e ele respondeu: ‘Sete!’”, relembra Myriam Tricate, diretora do colégio Magno. Com mais de três mil alunos, o Magno investe 7% de sua receita em recursos tecnológicos e é um dos mais ferrenhos adeptos da informática na sala de aula. “É importante que os pais percebam a integração das atividades escolares nas aulas de computação. Não adianta nada ensinar Português, Ciências ou outras disciplinas se não houver uma integração real. No mundo digital, todas as disciplinas estão inter-relacionadas”, diz Myriam.
Sob a ótica mercadológica, centenas de empresas especializaram-se no desenvolvimento de equipamentos, periféricos e programas específicos para o nicho infanto-juvenil. Nem todos, porém, são indicados para o consumo infantil. Estudos recentes indicam que os programas que exigem raciocínio são mais indicados do que os joguinhos com exercícios que demandam apenas cópia e repetição. Não raro, esses programas são tão passivos quanto a televisão. Mesmo assim, a indústria de programas educacionais cresce a passos largos. Nos últimos dois anos, a participação dos produtos educacionais no mercado de multimídia subiu de 15% para os atuais 50%, informa Cíntia Porfírio, gerente da Positivo Informática, uma das maiores empresas de softwares educacionais do País. Quem comprova essa tendência é a Electronic Entertainment Expo, a E3, maior feira de entretenimento e multimídia que acontece anualmente nos EUA: os jogos, que em 1995 representavam quase 80% da produção do setor, caíram para 50% em 1999, deixando a outra metade para os títulos didáticos.
A facilidade que as crianças têm para manusear mouses, teclados, controles remotos, microondas e até mesmo o relógio do videocassete pode ser expressa nos seguintes termos: elas trabalham na base de tentativa e erro, sem medo de apertar botões e provocar um curto-circuito. “A gente nasce sem saber nada, com a memória limpa igual à de um PC novo. Os adultos têm medo”, diz Daniel Bezborodco, que, aos dez anos já pensa em fazer engenharia mecatrônica. Daniel é um típico exemplo de estudante que iniciou seu desenvolvimento tecnológico aos quatro anos e hoje já dá “aulas” ao pai. Todo esse conhecimento deve ser muito bem dosado, afirma Fany Barocas, diretora do Colégio I. L. Peretz, escola particular voltada à comunidade judaica de São Paulo. “Temos muito cuidado ao ensinar computação. Não queremos que o aluno perca o convívio social ou deixe de fazer as atividades normais de uma criança em função do computador”, afirma Fany. Não é raro encontrar crianças viciadas em tecnologia, daquelas que saem do colégio brincando com o game portátil, chegam em casa e passam a tarde jogando videogames e navegando na Web. Atividades artísticas e esportivas, bem como brincadeiras com outros colegas, acabam encaradas como “caretas, ultrapassadas”. O importante é o equilíbrio entre todas as atividades, lúdicas, físicas ou mesmo aquelas reservadas a estimular as relações interpessoais. “Gosto de ficar no PC e jogar videogame, mas nunca deixo de fazer minhas outras atividades como natação, marcenaria e inglês. Sei que o importante é uma mistura de tudo”, analisa Daniel.
Bom senso – Apesar de existir correntes pró e contra o uso da tecnologia na educação, a realidade é que o dia-a-dia das pessoas está cada vez mais integrado ao computador e seu conhecimento é pré-requisito para as principais profissões. O segredo do ensino, aliado à tecnologia, é o bom senso. Não adianta introduzir na informática uma criança de três anos, deixando para trás as brincadeiras de roda, os esportes e as outras atividades fundamentais em sua formação. A tecnologia nada mais é do que uma ferramenta para o saber, que deve ser acompanhada de perto por pais e mestres.
Acompanhe abaixo mais cinco dicas importantes:
1. Evite fazer do micro uma babá eletrônica para deixar seu filho ocupado enquanto você também estiver.
2. Controlar o conteúdo da Internet é praticamente impossível. Por isso, separe um tempo de seu dia para brincar no micro junto de seu filho.
3. Fuja dos programas violentos ou aqueles em que é preciso apenas fazer exercícios repetitivos, sem estímulo intelectual para a criança. Dê preferência para jogos que envolvam raciocínio e o uso da memória.
4. Equilibre bem o dia da garotada. Crianças precisam brincar, relacionar-se com os amigos na escola, ler, praticar esportes, assistir à tevê e jogar videogame. Tudo com limites.
5. Ajude a desenvolver a consciência crítica de seu filho explicando que, assim como na televisão, nem tudo o que aparece na Internet é verdade.