A banda larga móvel de altíssima velocidade (4G), que será licitada em maio, é apontada como um grande avanço da tecnologia, permitindo o acesso a voz e conteúdo multimídia com velocidade dez vezes superior à internet móvel (3G), utilizada hoje nos smartphones e nos tablets. O governo considera fundamental que o serviço 4G esteja funcionando durante os grandes eventos esportivos, principalmente na Copa do Mundo, mas esse novo sistema está muito longe de transformar o dia a dia da maioria dos brasileiros, que usam celulares pré-pagos como instrumento de trabalho e em substituição ao telefone fixo.
Para a consultora jurídica da ProTeste, Flavia Lefèvre, os grandes beneficiários do 4G serão as empresas e as classes A e B. As demais camadas da população não terão acesso ao serviço 4G — que permite acessar, além de voz, chamadas de vídeo, conteúdo multimídia, jogos e navegação com grande rapidez — porque os preços serão muito altos.
– O pequeno consumidor mal fala no celular. A média da recarga do cartão do celular é de R$ 5 – destaca.
O ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros, sócio-diretor da Orion Consultores, tem a mesma opinião. O típico usuário do serviço será quem tem conta pós-paga, de maior poder aquisitivo, e o mercado corporativo. Para a grande maioria da sociedade, a internet 4G não terá qualquer influência, admite. Entretanto, Quadros não descarta totalmente a possibilidade de o serviço 3G ficar mais barato, por uma questão de concorrência. Os consumidores que usam esse serviço hoje devem migrar para o 4G, mas ele não se arrisca a fazer qualquer projeção de queda de preço.
– O preço do serviço 4G chegará alto ao país, e os aparelhos também serão mais caros (entre R$ 1.500 a R$ 1.800) – destaca o vice-presidente da Anatel, Jarbas Valente.
Ele acredita que haverá uma contrapartida para as classes menos favorecidas, porque o preço da assinatura mensal do pacote 3G (voz e dados), hoje em torno de R$ 60, terá uma queda de 50% até 2014 com a implantação da tecnologia 4G.
Redução dos preços só virá com o tempo
Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, aposta que, com o tempo e maior volume de vendas, os preços da nova tecnologia cairão, inclusive para pacote de serviços que será oferecido pelas operadoras. Tude destaca que hoje já existem planos pré-pagos 3G bem baratos, na base de R$ 0,50 por dia.
Para ele, o serviço 4G terá um papel importante para o sistema de banda larga móvel no país, porque, além de aumentar a velocidade, ajudará a descongestionar as redes 3G utilizadas pela maioria dos internautas. A banda larga móvel cresceu 99,3% no ano passado frente a 2010, com mais 20,5 milhões de novos acessos.
A licitação da faixa de frequência 2,5 gigahertz (GHz), que será usada para o serviço 4G, está prevista para maio, com edital lançado em abril. Uma das principais exigências é que as sedes da Copa das Confederações e da Copa do Mundo tenham o serviço até o fim de 2013.
No mesmo edital serão divulgadas as regras para a licitação da faixa de 450 MHz, que levará a banda larga para a área rural. Neste caso, a empresa que ofertar o menor preço ao consumidor vencerá o leilão. A Anatel espera que o valor fique em torno de R$ 60 mensais para os serviços de voz e dados, mesmo preço praticado em áreas urbanas. Cerca de 8,3 milhões de pessoas vivem em área rural.
Os moradores das grandes cidades serão os primeiros a desfrutar da tecnologia 4G. O novo sistema vai reforçar as comunicações de voz e dados, principalmente nas regiões metropolitanas, onde a rede 3G está congestionada. Mas o funcionamento do serviço depende da instalação de muitas torres e estações, o que exigirá grandes investimentos por parte das operadoras.
Ex-diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o professor José Leite Pereira Filho explica que a frequência de 2,5 GHz é considerada muito alta, por isso a necessidade de reforçar a rede no Rio e em São Paulo:
– A velocidade cai onde há muita gente conectada.
Para criar competição no leilão da tecnologia 4G, o governo quer atrair cinco empresas que já operam no país com o sistema 3G: Sky, Vivo, Oi, Claro e Nextel. Mas grupos estrangeiros também poderão explorar o serviço. Os principais fornecedores de equipamentos são Ericsson, Nokia-Siemens, Huawei e ZTE.
O governo estuda oferecer à população de baixa renda uma internet móvel com preço acessível, mas o programa apelidado de “Banda Larga no Bolso” ainda não tem nenhuma perspectiva de ser implantado. Pelas previsões, o projeto não será concluído antes de um ano.
Para obter uma redução significativa no valor do serviço, o governo teria de abrir mão de parte dos tributos recolhidos pelas empresas. A proposta é que estas fiquem isentas dos tributos, mas reduzam as tarifas para os usuários.