Perder o emprego após os 50 anos aumenta o risco de a pessoa sofrer um infarto, especialmente no primeiro ano após a demissão, revela pesquisa publicada nesta semana no periódico “Archives of Internal Medicine”.
O risco é ainda maior se a experiência do desemprego se repetir: varia de 22% (primeira vez) a 63%, quando a pessoa já perdeu quatro ou mais empregos. Nesses casos, as chances de infartar são iguais às dos fumantes.
O estudo foi feito com 13.451 homens e mulheres entre 51 e 75 anos. No período entre 1992 e 2010, os pesquisadores entrevistaram os participantes a cada dois anos e registraram 1.000 infartos.
Usando modelos estatísticos, os pesquisadores viram que o desempregado tem um risco 35% maior de infartar do que aquele que nunca perdeu o emprego.
As chances foram similares para homens e mulheres de diferentes níveis educacionais e socioeconômicos.
Segundo Linda George, professora de sociologia da Universidade Duke e uma das autoras do estudo, “o desemprego tem um impacto significativo [no risco cardíaco] e é semelhante a outros fatores de risco, como o tabagismo e a obesidade”.
O médico Marcos Knobel, cardiologista do Hospital Albert Einstein, explica que, naturalmente, as pessoas acima de 50 anos já têm mais riscos cardiovasculares, mas que o estresse os potencializa.
“O desemprego é o principal fator estressante, principalmente entre os executivos acima dos 50 anos. A pessoa fica desolada, deprimida. Nas últimas duas semanas, atendi três pacientes com esse perfil.”
O cardiologista Sergio Timerman, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia, diz que, às vezes, a simples iminência de perder o emprego já gera estresse com potencial de provocar um evento cardiovascular.
“Já vi alto executivo com menos de 50 anos infartar só com essa possibilidade [de ficar desempregado]. ~Sem dúvida, o estresse já pode ser considerado um risco isolado para a doença coronariana.”
O mecanismo, segundo ele, é o mesmo da chamada “síndrome do coração partido”, causada pela liberação excessiva de adrenalina e de outros hormônios relacionados ao estresse. Isso pode produzir alterações na contração do coração por meio de isquemia ou de arritmias cardíacas.
O nefrologista Decio Mion, chefe do departamento do serviço de hipertensão do HC (Hospital das Clínicas de São Paulo) afirma que, dificilmente, os pacientes associam questões emocionais, como o estresse da perda um emprego, a problemas orgânicos.
“Há uma resistência muito grande, inclusive entre os médicos. As pessoas acham que esses tratamentos levam tempo e custam caro. Mas precisamos mudar isso, dar mais importância às questões emocionais e orientar o paciente estressado a buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica.”
Fonte: Folha